A hipótese das plutocracias autocráticas, por Ricardo Marinho

O que marcará o ano que se inicia? O lançamento de uma nova plutocracia à escala planetária, a partir da fusão governamental entre Donald Trump e Elon Musk?

É preciso dizer: ser reeleito com tanta facilidade 4 anos depois de ter estimulado uma insurreição no 6 de janeiro de 2021 (similar ao nosso bizarro 8 de janeiro de 2023), com bandeiras totalmente opostas às dominantes nas elites intelectuais, econômicas e políticas, e com menos recursos econômicos que o seu adversário, é um feito histórico e isso não pode ser explicado sem seu amálgama com Musk. Não se trata apenas de uma questão de dinheiro, embora também o seja. É uma fusão simbólica, onde Trump e Musk são as duas faces de uma medalha em que o povo norte-americano depositou a sua confiança.

Quanto desse Trump existe nesse Musk e quanto desse Musk existe nesse Trump?

Nenhum deles é um personagem simpático, nem tentam parecer. Ambos evitam colocar-se no nível dos outros; tampouco em conviver com eles. Eles são supostamente vencedores e se exibem como tal. Humildade e empatia não são suas qualidades: eles as consideram sinais de fraqueza.

Eles são capazes de qualquer coisa para evitar as derrotas ou para se recuperar e se vingar quando o forem. Seus laços são utilitários, nunca emocionais e/ou românticos. Não têm nenhuma consideração pelos seus colaboradores e parceiros, a quem podem abandonar abruptamente a qualquer sinal de discrepância e/ou deslealdade.

Eles pensam como megalômanos, querem tudo e acreditam que podem fazer tudo. A arrogância, aquele excesso de orgulho, os percorre da cabeça aos pés.

O mundo conheceu um Trump. Esse de agora vamos conhecer e menos ainda se sabe sobre o seu alter ego, o sul-africano Musk, com quem governará, pelo menos enquanto ambos os egos couberem na mesma sala.

Ele é conhecido por ser um viciado em riscos, um explorador sem fronteiras, um promotor de missões impossíveis, um workaholic incansável, um líder extremamente exigente. Com base nisso, alcançou um sucesso incomparável com ofertas inovadoras em uma ampla variedade de setores. Não é motivado pelo dinheiro, mas pela luta contra as forças que colocam seu mundo face à extinção, que só pode ser evitada com a colonização de Marte.

Sua vida pessoal anda de mãos dadas com seu messianismo. Tem opiniões e costumes disruptivos e extremistas em todos os domínios: reprodução humana, relações afetivas, envelhecimento, vida cívica, papel do Estado e das empresas. Ele está no extremo oposto do clássico eleitor republicano, mas isso não importa: Trump o tolera e até o aplaude.

Existem vários paralelos entre os dois. Suas vidas pessoais não passariam pelo filtro Cristão. Mas isso não importa muito ou nada. Assim como Trump esmagou o “fazer o bem” político e rompeu com as regras tradicionais das campanhas políticas, que o colocaram na Casa Branca, Musk tornou-se o homem mais rico do planeta ao impor-se ao “fazer o bem” corporativo e violar violentamente com qualquer versão de capitalismo “responsável”. Tal como Trump deslocou-se da aura épica e poética de Barack Obama da imaginação política, com os seus apelos à Make America Great Again, Musk deslocou Bill Gates e a sua vocação de usar os recursos e a inteligência do capitalismo para atacar a pobreza da imaginação capitalista ou revertê-la. Para Musk, a solução é colonizar Marte, para o qual só há um caminho: a seleção dos melhores, o trabalho sem limites, a competição até a morte.

Esse Trump não teria vencido sem esse Musk. Deu substância à ousadia, ao triunfalismo, às tarefas impossíveis, aos prazos inatingíveis, às soluções impensáveis. Numa era de mega-ameaças e mega-tretas, de monstros e salvadores, esse Trump encontrou nesse Musk o aliado perfeito para dar vida ao Macrinus do Gladiador II intuído por Ridley Scott, o messias de um novo ciclo não só dos Estados Unidos, mas de toda o planeta. A onda de choque da contra revolução cultural em curso já pode ser vista no sorriso de Putin e de outros emuladores mais próximos. Ele nos acompanhará para o momento. Mas até quando só a roda da fortuna nos responderá.

6/8 de janeiro de 2025

 

Ricardo José de Azevedo Marinho é Presidente do Conselho Deliberativo da CEDAE Saúde e professor da Faculdade Unyleya, da UniverCEDAE, da Teia de Saberes e do Instituto Devecchi.

 

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3 Comentários

  • John Lennon

    Boa tarde!! Gostei do novo modelo do blog.
    Complementando o artigo do Ricardo, ainda tem o Meta, que é responsável pelo Facebook, Instagram e whatsapp, que aderiu aí Trumpismo, tempos difíceis estão aí, a internet é um campo, aonde a extrema direita sabe bem usar, as desinformação, fakes, etc..
    O combate ao fortalecimento da democracia é crucial, veremos o que vai ser em 2026.

    • José Bezerra

      Excelente análise dos escrotos que comandarão os estados unidos.

  • Vagner Gomes

    Esse artigo de estreia da nova fase de VOTO POSITIVO é uma aula para os analistas de política.

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